LGBTfobia Nossa de Cada Dia: Drags nas Olimpíadas de Paris 2024

Reprodução do Canal Eurosport

A abertura das Olimpíadas de Paris contou com apresentações em diversos pontos às margens do rio Sena. Uma que está causando grande polêmica por parte dos setores mais retrógrados (mas não só), foi um desfile de artistas drags e trans representando, o quadro “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci em certo momento, e em outro “O Banquete dos deuses” inspirado na tela de Jan Van Bijlert. 

Na verdade a discussão é inócua. Isso porque são duas as cenas, e também pois o que me interessa aqui é a recepção da extrema direita que usou do pretexto para moralizar a questão.

As redes abusaram da interpretação de que essa seria uma citação à Santa Ceia; pintura que retrata o episódio bíblico, mostrando Cristo com seus apóstolos. Trata-se de obra de imaginação, mas sua fama foi tal que ela se converteu em realidade. Foi o sucesso e o tempo que conferiram à tela, de 1495, um conteúdo verista, quase sagrado, guardando a cena como se tivesse se passado apenas entre homens e brancos.

Se o diretor artístico é Thomas Jolly, essa performance em particular é de autoria de Leslie Barbara Butch, mais conhecida como Barbara Butch; uma DJ e ativista lésbica francesa. Ela faz campanhas de corpos divergentes, tendo realizado um curta chamado “Extra Large”.

Na apresentação ela estabeleceu uma associação entre a cena e um desfile de inspiração ballroom. Diversas drag queens como Nicky Doll, Paloma e Piche; Raya Martigny, mulher transgênero, e no centro a própria Barbara Butch perfilaram com seus corpos a importância da comunidade LGBTQIAPN+ na abertura das olimpíadas.

A reação transfóbica na França e no Brasil falou, porém, em “sacrilégio” (?) quando esse quadro já foi relido inúmeras vezes. A tela de da Vinci já apareceu “traduzida” em propagandas de todo tipo, filmes, quadros em que constam só mulheres ou apenas pessoas negras e até cenas de heróis da Marvel e da turma da Mônica. Nunca vi esse tipo de contestação.

Respeito todas as formas de fé religiosa mas desconfio quando a camarilha de Nikolas Ferreira e de Carla Zambelli resolvem pegar carona e pregar sua própria cruzada santa. Santa?

Vergonha transfóbica é o nome disso tudo.



PALAVRAS DO DIRETOR ARTÍSTICO DOS JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS 2024...

Caro leitor:

Estou prestes a pisar alguns pés no que diz respeito à cerimônia de abertura nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

A mulher sem cabeça era Maria Antonieta. Governou sobre a França e foi declarada culpada de traição, conspiração e roubo do país. Soa-lhe familiar?

Além disso, não foi "A Última Ceia". Era uma representação de um antigo bacanal grego. Porque os Jogos Olímpicos são antigos e gregos. Surpresa!

E se você não sabia, uma "Bacchanalia" é uma festa incontrolável, promíscua, extravagante e barulhenta. As festas muitas vezes duravam vários dias em que honravam o Deus do Vinho, Baco (o menino azul coberto de vinha de uva). Também é conhecido como Dionísio, o Deus grego da Fertilidade, mais tarde conhecido como Deus do Vinho e do Prazer.

E finalmente, não foi a morte em um cavalo pálido. Foi Sequana, deusa do Sena, o rio onde aconteceu o desfile de barco dos atletas. Ela estava destinada a representar o espírito olímpico.

Se alguns de vocês não estivessem tão ocupados tentando acabar com o departamento de cultura e educação, você poderia saber disso.

Solte a embreagem das suas pérolas.

Seu sinceramente
Francisco Thomas Jolly

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