FILME: Festim Diabólico (1948)

FILME: Festim Diabólico (1948)
Houve uma grande relutância em incluir esse filme como referência ou apenas uma “Menção Honrosa”.

Explica-se: na verdade, a homossexualidade dos protagonistas é subliminar, mas, com olhar atento, pode-se enxergá-la por todo o filme. Aliás, essa característica está presente em alguns filmes de Hitchcock. 

O filme abre com Shaw (John Dall) e Phillip (Farley Granger, lindo) estrangulando o amigo David (Dick Hogan) com uma corda, remetendo ao título do filme em inglês (Rope), baseado em fatos reais e numa peça de teatro (de 1929, de autoria de Patrick Hamilton).

Em seguida, decidem colocar o corpo numa arca e dispor os pratos da festa, que viria a seguir, em cima dela. Com esse mórbido detalhe, inicia-se o jantar, recheado de convidados exóticos, incluindo o pai e a noiva da vítima, e assuntos excitantes, que giram muitas vezes em torno da morte. 

Percebendo algo de estranho no ar, o professor de filosofia Sr. Rupert (James Stewart, ator predileto de Hitchcock), um dos convidados, começa a pressionar os dois rapazes a fim de que revelem o que estão tentando esconder na festa. 

A olho nu, nada de mais parece acontecer no filme, mas, para os mais atentos, o motivo do assassinato é a chave do mistério. Durante todo o filme, há uma forte cumplicidade entre Shaw e Phillip, que moram juntos e são um pouco mais que amigos. Por várias vezes, durante as conversas, os dois deixam clara a inveja que sentem de David, inclusive por sua beleza.

Será que tinha convidado David para um menáge, e ele teria recusado? E ameaçado contar para os amigos próximo sobre o casal? É uma hipótese (que eu defendo).

Curiosidades:

Planos-sequência

O filme foi feito todo em planos-sequência, ou sseja, em tomadas inteiras sem cortes, como a série Adolescência (Netflix). Quando o rolo de filme acabava (que durava 10 minutos), a câmera parava num objetto, era desligada, trocava-se o rolo, e continuava a filmagem no mesmo ponto. Dá pra perceber os momentos em que o rolo de filme é trocado.

Foi tudo filmado num estúdio com um cenário fixo, onde as nuvens da janela eram movidas manualmente. Assim como toda a iluminação que mostra o sol se pondo e anoitecendo. O som da rua foi captado por um microfone colocado na rua em frente ao estúdio.

Trata-se do primeiro filme colorido de Hitchcock (em Technicolor),

Trailer

Um dos trailers do filme, que está no Youtube, mostra David vivo, conversando com a namorada (que estará na festa do filme) sobre o que farão no filme daqui a pouco, ou seja, um encontro pouco antes da ação do filme. A cena do trailer não existe no filme, pois a ação acontece toda em outro local. Mas eles comentam a cena do trailer durante o filme.

Fatos Reais

O filme e a peça de teatro se baseiam no famoso crime ocorrido em Chicago (EUA), em 1924, dos jovens Leopold (19 anos) e Loeb (18 anos), alunos da Universidade de Chicago, que mataram um conhecido de 14 anos, e depois mutilaram e esconderam o corpo numa rodovia. No ínício forjaram um sequestro, pedindo resgate à família, mas o crime já tinha acontecido e eles não queria dinheiro, queriam cometer o "crime perfeito".

O crime seria descoberto graças aos óculos de Leopold que havia deixado junto ao corpo, não se sabe se para que fosse descoberto, ou por descuido mesmo. Em cartas e depoimentos, ficou insinuado que os dois alunos mantinham um relacionamento amoroso escondido, pois eram de famílias ricas e conservadoras. Foram condenados à prisão perpétua, sendo que Loeb morreu na prisão, e Leopold conseguiu liberdade condicional, morrendo em Porto Rico.

Staff Gay

Ambos os atores principais, John Dall e Farley Granger eram homossexuais na vida real, uma característica que era do diretor Hitchcock, que escolhia os atores de acordo com o perfil dos personagens. Ele faria o mesmo anos depois com o ator Anthony Perkins em Psicose (1960).

John Dall era mais discreto, e foi obrigado a casar-se para desfazer os boatos, mas terminou sua vida (aos 50 anos) com um companheiro, o ator Clement Brace. Farley Granger, menos discreto, durante muitos anos teve um relacionamento com o Produtor Robert Calhoun. 

O roteiro do filme foi escrito pelo roteirista gay Arthur Laurents, autor também da peça LGBT+ "A Gaiola das Loucas". 

Onde assistir: O filme está inteiro e oficial no Youtube, no Google Play e no Prime Vídeo.

Direção: Alfred Hitchcock.

Lekitsch, Stevan. Cine arco-íris: 100 anos de cinema LGBT nas telas brasileiras (Portuguese Edition) (pp. 22-23). Edições GLS. Edição do Kindle. 

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